O primeiro lance em busca de um passatempo, muitas vezes desencadeado por uma curiosidade, pode se tornar algo ameaçador: o vício em apostas.
Esse tipo de lazer patológico traz consigo uma cascata de eventos difícil de ser parada quando não há identificação rápida do problema. Por isso é importante reconhecer sinais e ficar atento aos seus hábitos de jogo.
Será que você tem Ludopatia? Saiba mais sobre o transtorno, como reconhecer e, principalmente, como pedir ajuda.
Um facilitador para o aumento de casos de ludopatia está no de acesso a jogos de azar por meio de plataformas digitais.Fonte: GettyImages
Qual é o cenário das apostas no Brasil?
Em território brasileiro, cassinos, casas de apostas, bingos e outros ambientes voltados para os jogos de azar são proibidos desde 1946 por meio do decreto de lei nº 9.215, promulgado pelo então presidente Eurico Gaspar Dutra.
No entanto, existem jogos de azar regulamentados, como nos jogos de loteria mantidos pela Caixa Econômica Federal como Mega-Sena e Lotofácil. Sem contar que casas de apostas esportivas são legalizadas em território nacional, visto que dependem da habilidade do jogador.
Mas o surgimento de plataformas digitais para apostas online tem modificado esse cenário.
Quem nunca fez uma “fezinha” de final de ano?Fonte: GettyImages
Ainda sem legislação que contemple e regulamente essa nova modalidade de serviço de jogos, várias brechas tem sido utilizadas para a divulgação de casas de apostas por influencers em suas mídias sociais, por exemplo.
Isso tem gerado um aumento de apostadores patológicos e são inúmeras as repercussões sociais e financeiras. De acordo com levantamento, a maior parcela de jogadores está na faixa etária entre 30 e 50 anos, sendo a maioria homens, que possuem renda financeira média a baixa. Mas como isso pode impactar na vida de quem joga? Vamos falar sobre isso!
A Ludopatia e o cérebro do jogador: onde o vício se aloca
A Ludopatia é nome do transtorno associado ao vício em jogos de azar. Esse tipo de jogo contempla bingos, loterias, jogos de cartas e apostas online, como o famoso Jogo do Tigrinho.
A princípio, o nome pode não gerar alarde, sendo bastante caricato por seu prefixo “ludo” que remete ao lúdico, ao fantástico. No entanto, esse termo nomina um problema crescente na sociedade, que agora está ao alcance das mãos 24 horas por dia.
A facilidade de acesso e a oportunidade de “renda extra fácil” tem contribuído para o aumento de apostadores.Fonte: GettyImages
Mas se engana quem pensa que a Ludopatia é apenas um problema comportamental. O vício em jogos surte efeitos fisiológicos e ativa sistemas de recompensa no cérebro, estimulando a liberação hormonal.
Por isso é tão difícil para o jogador patológico romper com o ciclo de apostas, ainda que esteja perdendo. Um misto de busca, frustração e esperança se mesclam gerando uma cascata fisiológica que impulsiona a pessoa a manter a ação.
Ainda que em 100 tentativas apenas uma tenha resultado positivo, já é reforçador suficiente para que as jogadas continuem.
Dopamina, Serotonina e Noradrenalina formam a tríade de recompensa que motiva a manutenção do comportamento.Fonte: GettyImages
Estudos sugerem que algumas pessoas possuem maior propensão genética a vícios, sendo mais sensíveis à captação de neurotransmissores relacionados ao prazer e felicidade.
Além dos fatores genéticos, o meio social, cultural e doenças mentais de base também influenciam no comportamento de jogo. Sendo assim, é importante identificar quais marcadores podem estar contribuindo para a compulsão.
Como saber se estou viciado em jogo de aposta?
Conforme o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM – 5), a pessoa deve satisfazer ao menos quatro critérios, dentre os nove elencados, para ser considerada jogadora patológica.
Fique atento a sinais e sintomas como:
- Necessidade de aumentar gradualmente o valor das apostas;
- Irritação ao ter que cessar o jogo;
- Não conseguir parar o comportamento de jogo por longos períodos;
- Jogar quando se sente angustiado;
- Pensar constantemente no jogo;
- Não aceitar perder e sentir o desejo de jogar até ganhar, em um ímpeto de ficar “quite” com a banca;
- Mentir sobre os hábitos de jogo;
- Ter prejuízos nos relacionamentos ou ter perdido o emprego em decorrência dos hábitos de jogo;
- Precisar de aporte financeiro de terceiros para pagamento de dívidas de jogo.
Fique atento aos sinais e aos seus hábitos de jogo.Fonte: GettyImages
O vício em apostas apresenta níveis que variam entre leve a grave e os sinais devem permanecer por ao menos 12 meses. Caso perceba excesso de tempo nesse tipo de atividade, perda financeira e social, procure por ajuda de um profissional de saúde.
Como me livrar do vício em apostas?
O primeiro passo para se livrar do vício em apostas é a identificação do problema. É comum um processo de negação em relação ao próprio comportamento até que este comece a gerar transtornos graves na vida pessoal e financeira do jogador.
Ao identificar sinais de alerta, se mantenha aberto a conversa e procure por apoio de profissionais da saúde para receber orientação para o melhor tratamento. As estratégias se diferenciam a depender do grau de dependência.
O tratamento em casos iniciais pode ser realizado através acompanhamento psicológico, tratando quadros primários que possam ter levado à Ludopatia, como depressão, por exemplo.
De leve a grave é recomendado que todas as pessoas com vício em apostas sejam acompanhadas por profissional da saúde mental.Fonte: GettyImages
Em casos mais graves, além do acompanhamento psicológico, há disponibilidade de medicações que ajudam a controlar a compulsão, modulando a captação dos neurotransmissores no cérebro.
O apoio familiar e as redes de suporte também são necessárias no processo de remissão da Ludopatia. Para isso, existem grupos de jogadores em recuperação que compartilham suas experiências apoiando reciprocamente no processo.
É possível vencer o vício em apostas, mas você precisa estar disposto a passar pelo processo. Caso tenha dúvidas, procure o serviço de saúde e assistência social de sua cidade e conheça os serviços disponíveis para o tratamento da compulsão.
Achou o conteúdo útil? Então, compartilhe em suas redes sociais e faça com que o conteúdo alcance cada vez mais pessoas. Até a próxima!