Após meses de silêncio quase total por parte da Maçã após o anúncio original, o Apple Vision Pro finalmente foi lançado nos Estados Unidos cercado de muito barulho e impressões positivas por parte de quem recebeu uma unidade para testar. Alguns dias depois, nossos amigos do Loop Infinito nos convidaram para testar brevemente a novidade
Agora que já tivemos essa experiência – e que o momento de empolgação inicial generalizada parece ter passado –, podemos falar sobre como é de fato usar o “dispositivo de computação espacial”, como ele se compara com outros headsets VR disponíveis hoje e o que poderia ser melhor nele.
Premium, não perfeito
Não vou repetir aqui as descrições detalhadas sobre cada componente do Vision Pro, até porque já entrei a fundo nesses aspectos no nosso vídeo de primeiras impressões, mas é inegável que a qualidade da construção tem muito do que já estamos acostumados a ver em produtos da Apple.
Os materiais são de ótima qualidade, mas não necessariamente feitos para durar para sempre, especialmente quando falamos do vidro laminado na tela frontal – extremamente suscetível a riscos – e os tecidos frágeis nos selos de luz e ao redor das lentes internas.
“Selo Apple de qualidade”
O metal e vidro no headset também se somam para dar ao aparelho uma carga de peso totalmente frontal, o que você só consegue compensar apertando bastante a Solo Knit Band ao redor da sua cabeça.
Como a bateria é presa por um cabo e acaba ficando no seu bolso, ela contribui para não tornar o dispositivo ainda mais pesado no total, mas também não ajuda distribuir a carga de forma mais equilibrada, como é o caso do Meta Quest Pro, com sua bateria traseira.
A bateria pode ficar no seu bolso
Com isso, por mais que os tecidos na alça e na almofada do selo de luz sejam em si extremamente macios e confortáveis, pode ser necessário apertar muito a alça para que o aparelho fique fixo no lugar. Por isso, a experiência de uso do Vision Pro com a Solo Knit Band extremamente desconfortável depois de meia hora de utilização, resultando em uma sensação de ardência e marcas visíveis ao redor dos olhos.
O Apple Vision Pro pode deixar marcas
Não é atoa que a Apple manda junto na caixa a Dual Loop Band, que realmente distribui o peso bem melhor e possibilita sessões de uso mais longas com menos desconforto, mas infelizmente não tive tempo para fazer esse teste mais prolongado.
Apple Vision Pro foi feito para não compartilhar
Uma sensação que ficou comigo após usar o Vision Pro é que ele é um dispositivo pensado para ser tão pessoal que acaba oferecendo uma experiência solitária em vários sentidos. Já no processo de compra, é necessário fazer uma leitura do rosto do usuário para escolher um selo de luz mais adaptado. Isso ajuda a impedir de forma mais completa a interferência de luz externa durante o uso, sim, mas também torna o uso por outras pessoas mais desconfortável.
No meu caso, o Vision Pro que testei não estava com o selo correto para o meu rosto, e com isso os imãs que o prendem ao headset em si acabavam soltando levemente sempre que eu movia muito os músculos da minha testa ou sobrancelhas – mas até aí, isso é algo que uma trava simples poderia resolver em uma versão futura do aparelho. Só que o desconforto de utilização por alguém que não é o dono do dispositivo vai além disso.
Ao configurar o headset pela primeira vez, os motores internos movem as lentes para a posição ideal com um simples pressionar longo da coroa giratória, e aí o dono do aparelho faz uma rápida calibração dos sensores internos para que eles consigam rastrear a direção para onde seus olhos estão apontados com precisão.
Depois disso, quando outra pessoa tenta usar o aparelho, a parte dos motores continua funcionando automaticamente, mas o rastreamento dos olhos fica completamente disfuncional até que a calibragem seja refeita – o que o dispositivo não oferece automaticamente. Cabe a você lutar para achar essa opção no menu de configurações.
“Tocando” no virtual
Uma vez que todos esses obstáculos estejam fora do caminho – ou caso você seja o dono original do Vision Pro em questão –, aí sim começa a experiência real de uso. A interação com o sistema é baseada primariamente em duas ações: olhar e tocar seu indicador no seu polegar.
Isso parece extremamente simples na teoria, mas leva algum tempo para que você se acostume. Para mim, que tinha passado horas assistindo a conteúdo de múltiplas fontes sobre a novidade, o período de adaptação à forma de controle acabou sendo curto.
Uma experiência diferenciada
Desde que a calibração dos sensores tenha sido feita para você, a precisão dos controles é excelente. Ainda assim, tive que me forçar para não erguer a mão para dentro do meu campo de visão nas primeiras vezes que fui fazer o gesto de toque. Como o headset tem sensores até para baixo e para os lados, os gestos são detectados com precisão mesmo sem isso.
É possível ir fisicamente até o local onde você colocou as janelas e interagir com elementos como botões esticando suas mãos e tocando neles, mas isso não é prático e não funciona para tudo. Da mesma forma, a interação com o teclado virtual que surge na tela ao selecionar algum campo de digitação pode ser feita com a combinação de olhar para a tecla e fazer o gesto de toque com indicador e polegar, ou então usando os dedos indicadores de ambas as mãos para “tocar” tecla por tecla.
Vale destacar que não funciona se você tentar usar os outros dedos das mãos para isso. O primeiro método é mais rápido e resulta em bem menos erros.
Visuais excelentes
A definição das imagens nas janelas criadas pelos apps no sistema VisionOS é realmente excelente, especialmente quando nos atentamos a detalhes como as sombras que as janelas fazem na área abaixo delas. A Apple se gaba que o Vision Pro traz telas com qualidade similar à de TVs 4K para cada olho, e realmente o que vi no meu teste foi a melhor qualidade visual em um headset até agora.
Além disso, o sistema de passthrough – ou transparência, em tradução livre – tem o melhor tempo de resposta e qualidade visual entre todos os headsets disponíveis no mercado hoje. Por mais que não seja possível ler com facilidade todos os textos na tela do seu smartphone sem tirar o headset do rosto, você consegue interagir com o mundo real sem a menor dificuldade ou prejuízo no seu tempo de resposta ao que acontece ao redor.
Uma reprodução do mundo real
No entanto, por mais que essa qualidade visual toda seja sim inquestionável, ela também não é perfeita. Você ainda consegue perceber que não está olhando diretamente para o mundo real, e sim para uma reprodução dele.
As cores são um dos elementos que mais quebram a ilusão aqui. Além disso, também é inegável que por mais que concorrentes como o Meta Quest 3 estejam claramente abaixo do Vision Pro na qualidade dos displays e passthrough, eles também estão bem mais próximos do que o que a Apple – e o preço do seu headset – dariam a entender.
Som realmente surround
Um dos pontos que mais se destacaram na minha experiência com o Vision Pro foi a qualidade sonora. O áudio dos alto-falantes em ambas as hastes laterais é disparado na direção dos ouvidos e é rico em definição. O som é equilibrado e entrega graves muito mais marcados que o esperado para caixas de som pequenas.
Além disso, o sistema com alto-falantes de ambos os lados consegue criar áudio realmente surround, com o som se movendo em todas as direções de acordo com as posições das telas dos aplicativos. Conteúdos preparados para funcionar com uma experiência imersiva também no aspecto sonoro certamente brilham no headset da Apple.
Apps: calcanhar de Aquiles do Vision Pro
Na parte dos aplicativos é onde o Vision Pro encontra algumas das suas maiores fraquezas. Por mais que ele tenha uma boa suíte de apps feitos pela própria Apple, poucas outras empresas criaram versão de seus programas feitas para tirar proveito do novo produto.
Um dos exemplos positivos é o Disney+, que oferece filme em 3D que tiram proveito das capacidades de “computação espacial” do aparelho. No meu curto tempo de teste, infelizmente não consegui experimentar, mas relatos de quem testou indicam que o resultado é muito melhor que o de um cinema 3D moderno – exceto quando você estiver em movimento, como durante a decolagem de um avião, por exemplo, o que resulta em enjoo imediato.
Os aplicativos são o ponto fraco do Apple Vision Pro
Boa parte dos aplicativos disponíveis para download no Vision Pro são na verdade versões de apps feitas para o iPad. Por conta disso, por mais que as funcionalidades básicas estejam lá, elas não tiram vantagem das capacidades extras do headset.
Isso sem falar na ausência notável de apps grandes, como Netflix, YouTube e Spotify, que optaram explicitamente por não fazer versões para o novo produto da Apple. Ainda é possível usar esses serviços no aparelho por meio das suas versões para navegadores, mas assim não há recursos importantes como download de mídias para consumo offline, entre outras coisas.
Após o lançamento do Vision Pro, o YouTube já voltou atrás e declarou planos de criar uma versão do aplicativo para o dispositivo da Apple, mas a data de lançamento permanece um mistério. As outras empresas podem seguir na onda ou não, o que deve depender principalmente do sucesso das vendas do aparelho.
Potencial do ecossistema
Uma das principais vantagens oferecidas pelo Vision Pro está na sua capacidade de não só espelhar a tela de um Macbook conectado à mesma Apple ID, criando um display virtual de tamanho muito superior, mas ao mesmo tempo apagar o painel físico do notebook e permitir que você continue usando seu teclado e outros acessórios conectados a ele.
Isso abre a possibilidade de trabalhar com muitos menos restrições e com mais espaço e privacidade mesmo em ambientes cheios de pessoas ou com espaço físico reduzido.
Dessa forma, profissionais cujas profissões exijam determinado nível de sigilo têm no headset uma ferramenta poderosa. Quem aí se lembra de quando um funcionário da Ubisoft foi flagrado por um fã revisando no seu laptop em um avião materiais de um jogo ainda não anunciado da franquia Assassin’s Creed? Com um Vision Pro, esse tipo de vazamento seria muito mais improvável.
Ao mesmo tempo, nem mesmo a integração com todo o ecossistema de dispositivos da Apple parece ter sido plenamente implementada. Não existe uma forma nativa de replicar no seu ambiente virtual o conteúdo do seu smartphone, mesmo que ele seja um iPhone.
Até é possível acessar suas mensagens no iMessage, mas como não dá para ver com detalhes a tela do celular pelas câmeras do headset, você ainda precisa tirar o Vision Pro da cabeça se quiser usar seu iPhone.
Outro ponto que minha experiência com o Vision Pro destacou foi a dificuldade de interação com outras pessoas enquanto você usa o aparelho. As Personas são uma forma inteligente de permitir que você participe de videochamadas via FaceTime, Zoom ou apps similares, mas o visual delas ainda cai em um meio-termo entre o fotorrealismo e os gráficos do clássico Goldeneye: 007 do Nintendo 64, causando certa estranheza.
“Mas amigo, você tá bem?”
Por mais que você consiga ver perfeitamente as pessoas ao seu redor se não estiver usando o headset no modo de imersão total, falar com alguém que está usando os óculos não passa uma sensação de naturalidade.
A tela externa, que tenta replicar os olhos do usuário para reduzir essa barreira, sofre com baixa resolução, posicionamento estranho e brilho fraco demais para conseguir vencer a enorme quantidade de reflexos (e marcas de dedo) que inevitavelmente se espalham pelo vidro arredondado no exterior do dispositivo.
E mesmo que o Vision Pro fosse muito mais acessível e disponível para todos, no momento não há aplicativos que permitam experiências compartilhadas no ambiente virtual do VisionOS. Você até pode replicar o que está vendo em uma TV externa, mas não tem como compartilhar objetos virtuais em um mesmo ambiente com outras pessoas que também tenham os óculos, e nem entrar em mundos virtuais compartilhados, como no caso de jogos online.
Isso reforça ainda mais a sensação de isolamento e solidão que mencionei mais ainda e é algo em que a Apple definitivamente precisa trabalhar.
Vai dar certo?
Assim como quando criou o iPhone, a Apple não criou uma categoria nova de produtos ao lançar o Vision Pro. Por mais que a Maçã se recuse a chamar seu lançamento disso, ele é um headset de realidade virtual – ou de realidade mista, se quisermos ser mais justos.
O mérito da Apple é ter conseguido, assim como foi com o seu primeiro smartphone, criar um aparelho refinado o suficiente para se destacar e atrair a atenção mesmo de quem não é entusiasta de tecnologia.
Só que, por mais que o iPhone também já fosse consideravelmente mais caro que os outros smartphones disponíveis em 2007, a diferença de preço entre o Vision Pro e seus concorrentes é consideravelmente maior. O Meta Quest 3, que é o rival mais próximo em termos de funcionalidades, custa 7 vezes menos que o lançamento da Apple.
Somando-se a isso, o Vision Pro não consegue resolver completamente alguns dos problemas mais recorrentes que incomodam há anos usuários de óculos VR, entre os quais estão questões como desconforto com uso prolongado e enjoos. Tanto é que alguns dos fãs que se empolgaram com a novidade parecem estar devolvendo o produto.
O futuro no momento parece incerto. Resta ver se a Maçã vai redobrar os investimentos e continuar apostando em gerações futuras – ou talvez até no lançamento de um Apple Vision sem o Pro, com alguns cortes de elementos custosos e um preço menos absurdo.
Além disso, concorrentes como Meta e Samsung, entre outras, podem se animar e acirrar mais a competição, o que no fim acabaria sendo bom para nós, consumidores. Só o tempo dirá, mas por enquanto eu sigo cautelosamente animado.
Após meses de silêncio quase total por parte da Maçã após o anúncio original, o Apple Vision Pro finalmente foi lançado lá nos Estados Unidos cercado de muito barulho e impressões positivas por parte de quem recebeu uma unidade para testar. Alguns dias depois, nossos amigos do Loop Infinito nos convidaram para testar brevemente a novidade
Agora que já tivemos essa experiência – e que o momento de empolgação inicial generalizada parece ter passado –, podemos falar sobre como é de fato usar o “dispositivo de computação espacial”, como ele se compara com outros headsets VR disponíveis hoje e o que poderia ser melhor nele.
Não vou repetir aqui as descrições detalhadas sobre cada componente do Vision Pro, até porque já entrei a fundo nesses aspectos no nosso vídeo de primeiras impressões, mas é inegável que a qualidade da construção tem muito do que já estamos acostumados a ver em produtos da Apple. Os materiais são de ótima qualidade, mas não necessariamente feitos para durar para sempre, especialmente quando falamos do vidro laminado na tela frontal – extremamente suscetível a riscos – e os tecidos frágeis nos selos de luz e ao redor das lentes internas.
O metal e vidro no headset também se somam para dar ao aparelho uma carga de peso totalmente frontal, o que você só consegue compensar apertando bastante a Solo Knit Band ao redor da sua cabeça. Como a bateria é presa por um cabo e acaba ficando no seu bolso, ela contribui para não tornar o dispositivo ainda mais pesado no total, mas também não ajuda distribuir a carga de forma mais equilibrada, como é o caso do Meta Quest Pro, com sua bateria traseira.
Com isso, por mais que os tecidos na alça e na almofada do selo de luz sejam em si extremamente macios e confortáveis, você acaba tendo que apertar muito a alça para que o aparelho fique fixo no lugar. Por isso, a experiência de uso do Vision Pro com a Solo Knit Band extremamente desconfortável depois de meia hora de utilização, resultando em uma sensação de ardência e marcas visíveis ao redor dos olhos. Não é atoa que a Apple manda junto na caixa a Dual Loop Band, que realmente distribui o peso bem melhor e possibilita sessões de uso mais longas com menos desconforto, mas infelizmente não tive tempo para fazer esse teste mais prolongado.
Feito para não compartilhar
Uma sensação que ficou comigo após usar o Vision Pro é que ele é um dispositivo pensado para ser tão pessoal que acaba oferecendo uma experiência solitária em vários sentidos. Isso começa já com o processo de compra, uma vez que é necessário fazer uma leitura do rosto do usuário para escolher um selo de luz mais adaptado para ele. Isso ajuda a impedir de forma mais completa a interferência de luz externa durante o uso, sim, mas também torna o uso por outras pessoas mais desconfortável.
No meu caso, o Vision Pro que testei não estava com o selo correto para o meu rosto, e com isso os imãs que o prendem ao headset em si acabavam soltando levemente sempre que eu movia muito os músculos da minha testa ou sobrancelhas – mas até aí, isso é algo que uma trava simples poderia resolver em uma versão futura do aparelho. Só que o desconforto de utilização por alguém que não é o dono do dispositivo vai além disso.
Ao configurar o headset pela primeira vez, os motores internos movem as lentes para a posição ideal com um simples pressionar longo da coroa giratória, e aí o dono do aparelho faz uma rápida calibração dos sensores internos para que eles consigam rastrear a direção para onde seus olhos estão apontados com precisão. Depois disso, quando outra pessoa tenta usar o aparelho, a parte dos motores continua funcionando automaticamente, mas o rastreamento dos olhos fica completamente disfuncional até que a calibragem seja refeita – o que o dispositivo não oferece automaticamente. Cabe a você lutar para achar essa opção no menu de configurações.
“Tocando” no virtual
Uma vez que todos esses obstáculos estejam fora do caminho – ou caso você seja o dono original do Vision Pro em questão –, aí sim começa a experiência real de uso. A interação com o sistema é baseada primariamente em duas ações: olhar e tocar seu indicador no seu polegar. Isso parece extremamente simples na teoria, mas leva algum tempo para que você se acostume. Para mim, que tinha passado horas assistindo a conteúdo de múltiplas fontes sobre a novidade, o período de adaptação à forma de controle acabou sendo curto.
Desde que a calibração dos sensores tenha sido feita para você, a precisão dos controles é excelente. Ainda assim, tive que me forçar para não erguer a mão para dentro do meu campo de visão nas primeiras vezes que fui fazer o gesto de toque. Como o headset tem sensores até para baixo e para os lados, os gestos são detectados com precisão mesmo sem isso.
É possível ir fisicamente até o local onde você colocou as janelas e interagir com elementos como botões esticando suas mãos e tocando neles, mas isso não é prático e não funciona para tudo. Da mesma forma, a interação com o teclado virtual que surge na tela quando você seleciona algum campo de digitação pode ser feita com a combinação de olhar para a tecla e fazer o gesto de toque com indicador e polegar, ou então usando os dedos indicadores de ambas as mãos para “tocar” tecla por tecla – não funciona se você tentar usar os outros dedos das mãos para isso. O primeiro método é mais rápido e resulta em bem menos erros.
A definição das imagens nas janelas criadas pelos apps no sistema VisionOS é realmente excelente, especialmente quando nos atentamos a detalhes como as sombras que as janelas fazem na área abaixo delas. A Apple se gaba que o Vision Pro traz telas com qualidade similar à de TVs 4K para cada olho, e realmente o que vi no meu teste foi a melhor qualidade visual em um headset até agora.
Além disso, o sistema de passthrough – ou transparência, em tradução livre – tem o melhor tempo de resposta e qualidade visual entre todos os headsets disponíveis no mercado hoje. Por mais que não seja possível ler com facilidade todos os textos na tela do seu smartphone sem tirar o headset do rosto, você consegue interagir com o mundo real sem a menor dificuldade ou prejuízo no seu tempo de resposta ao que acontece ao redor.
No entanto, por mais que essa qualidade visual toda seja sim inquestionável, ela também não é perfeita. Você ainda consegue perceber que não está olhando diretamente para o mundo real, e sim para uma reprodução dele. As cores são um dos elementos que mais quebram a ilusão aqui. Além disso, também é inegável que por mais que concorrentes como o Meta Quest 3 estejam claramente abaixo do Vision Pro na qualidade dos displays e passthrough, eles também estão bem mais próximos do que o que a Apple – e o preço do seu headset – dariam a entender.
Um dos pontos que mais se destacaram na minha experiência com o Vision Pro foi a qualidade sonora. O áudio dos alto-falantes em ambas as hastes laterais é disparado na direção dos ouvidos e é rico em definição. O som é equilibrado e entrega graves muito mais marcados que o esperado para caixas de som pequenas.
Além disso, o sistema com alto-falantes de ambos os lados consegue criar áudio realmente surround, com o som se movendo em todas as direções de acordo com as posições das telas dos aplicativos. Conteúdos preparados para funcionar com uma experiência imersiva também no aspecto sonoro certamente brilham no headset da Apple.
Apps: calcanhar de Aquiles
Na parte dos aplicativos é onde o Vision Pro encontra algumas das suas maiores fraquezas. Por mais que ele tenha uma boa suíte de apps feitos pela própria Maçã, poucas outras empresas criaram versão de seus programas feitas para tirar proveito do novo produto.
Um dos exemplos positivos é o Disney+, que oferece filme em 3D que tiram proveito das capacidades de “computação espacial” do aparelho. No meu curto tempo de teste, infelizmente não consegui experimentar essa utilização, mas relatos de quem testou indicam que o resultado é muito melhor que o de um cinema 3D moderno – exceto quando você estiver em movimento, como durante a decolagem de um avião, por exemplo, o que resulta em enjoo imediato.
Boa parte dos aplicativos disponíveis para download no Vision Pro são na verdade versões de apps feitas para o iPad. Por conta disso, por mais que as funcionalidades básicas estejam lá, elas não tiram vantagem das capacidades extras do headset.
Isso sem falar na ausência notável de apps grandes, como Netflix, YouTube e Spotify, que optaram explicitamente por não fazer versões para o novo produto da Apple. Ainda é possível usar esses serviços no aparelho por meio das suas versões para navegadores, mas assim não há recursos importantes como download de mídias para consumo offline, entre outras coisas.
Após o lançamento do Vision Pro, o YouTube já voltou atrás e declarou planos de criar uma versão do aplicativo para o dispositivo da Maçã, mas a data de lançamento permanece um mistério. As outras empresas podem seguir na onda ou não, o que deve depender principalmente do sucesso das vendas do aparelho.
Potencial do ecossistema
Uma das principais vantagens oferecidas pelo Vision Pro está na sua capacidade de não só espelhar a tela de um Macbook conectado à mesma Apple ID, criando para ele um display virtual de tamanho muito superior, mas ao mesmo tempo apagar o painel físico do notebook e permitir que você continue usando seu teclado e outros acessórios conectados a ele. Isso abre a possibilidade de trabalhar com muitos menos restrições e com mais espaço e privacidade mesmo em ambientes cheios de pessoas ou com espaço físico reduzido.
Dessa forma, profissionais cujas profissões exijam determinado nível de sigilo têm no headset uma ferramenta poderosa. Quem aí se lembra de quando um funcionário da Ubisoft foi flagrado por um fã revisando no seu laptop em um avião materiais de um jogo ainda não anunciado da franquia Assassin’s Creed? Com um Vision Pro, esse tipo de vazamento seria muito mais improvável.
Ao mesmo tempo, nem mesmo a integração com todo o ecossistema de dispositivos da Apple parece ter sido plenamente implementada. Não existe uma forma nativa de replicar no seu ambiente virtual o conteúdo do seu smartphone, mesmo que ele seja um iPhone. Até é possível acessar suas mensagens no iMessage, mas como não dá para ver com detalhes a tela do celular pelas câmeras do headset, você ainda precisa tirar o Vision Pro da cabeça se quiser usar seu iPhone.
Outro ponto que minha experiência com o Vision Pro destacou foi a dificuldade de interação com outras pessoas enquanto você usa o aparelho. As Personas são uma forma inteligente de permitir que você participe de videochamadas via FaceTime, Zoom ou apps similares, mas o visual delas ainda cai em um meio-termo entre o fotorrealismo e os gráficos do clássico Goldeneye: 007 do Nintendo 64, causando certa estranheza.
Por mais que você consiga ver perfeitamente as pessoas ao seu redor se não estiver usando o headset no modo de imersão total, falar com alguém que está usando os óculos não passa uma sensação de naturalidade. A tela externa, que tenta replicar os olhos do usuário para reduzir essa barreira, sofre com baixa resolução, posicionamento estranho e brilho fraco demais para conseguir vencer a enorme quantidade de reflexos (e marcas de dedo) que inevitavelmente se espalham pelo vidro arredondado no exterior do dispositivo.
E mesmo que o Vision Pro fosse muito mais acessível e disponível para todos, no momento não há aplicativos que permitam experiências compartilhadas no ambiente virtual do VisionOS. Você até pode replicar o que está vendo em uma TV externa, mas não tem como compartilhar objetos virtuais em um mesmo ambiente com outras pessoas que também tenham os óculos, e nem entrar em mundos virtuais compartilhados, como no caso de jogos online. Isso reforça ainda mais a sensação de isolamento e solidão que mencionei mais ainda e é algo em que a Apple definitivamente precisa trabalhar.
Assim como quando criou o iPhone, a Apple não criou uma categoria nova de produtos ao lançar o Vision Pro. Por mais que ela se recuse a chamar seu lançamento disso, ele é um headset de realidade virtual – ou de realidade mista, se quisermos ser mais justos. O mérito de Maçã é ter conseguido, assim como foi com o seu primeiro smartphone, criar um aparelho refinado o suficiente para se destacar e atrair a atenção mesmo de quem não é entusiasta de tecnologia.
Só que por mais que o iPhone também já fosse consideravelmente mais caro que os outros smartphones disponíveis em 2007, a diferença de preço entre o Vision Pro e seus concorrentes é consideravelmente maior. O Meta Quest 3, que é o rival mais próximo em termos de funcionalidades, custa 7 vezes menos que o lançamento da Apple.
Somando-se a isso, o Vision Pro não consegue resolver completamente alguns dos problemas mais recorrentes que incomodam há anos usuários de óculos VR, entre os quais estão questões como desconforto com uso prolongado e enjoos. Tanto é que alguns dos fãs que se empolgaram com a novidade parecem estar devolvendo o produto.
O futuro no momento parece incerto. Resta ver se a Maçã vai redobrar os investimentos e continuar apostando em gerações futuras – ou talvez até no lançamento de um Apple Vision sem o Pro, com alguns cortes de elementos custosos e um preço menos absurdo. Além disso, concorrentes como Meta e Samsung, entre outras, podem se animar e acirrar mais a competição, o que no fim acabaria sendo bom para nós, consumidores. Só o tempo dirá, mas por enquanto eu sigo cautelosamente animado.