Este texto foi escrito por um colunista do TecMundo; saiba mais no final.
Diferente de crianças e cachorros, adultos precisam ser rotineiramente persuadidos a levantar da cadeira e se exercitarem. E como tem sido difícil nossa relação com exercícios físicos, não é mesmo? Um começo pode estar bem próximo de nós, com nossos animais de estimação mais comuns: os cachorros. Saiba mais sobre a “dog walking“, uma prática simples que pode melhorar a saúde (a sua e do seu cachorro).
A importância das atividades físicas leves
As recomendações mundiais de atividade física para saúde têm-se concentrado em atividades físicas de intensidade moderada e vigorosa, em que se recomendam 150 minutos semanais – o correspondente há 2 horas e meia, ou 75 minutos por semana, respectivamente. São atividades como caminhadas rápidas e até exercícios mais intensos como corrida e levantar pesos. O que faz alguns pensarem que atividades físicas leves, como caminhadas mais lentas não seriam benéficas para saúde.
Canadenses em suas recomendações foram os primeiros a reconhecer que acumular várias horas de atividades físicas leves, incluindo ficar mais tempo em pé, é importante para saúde. Recomendações baseadas em estudos com grande poder de evidência – meta-análises, mostraram que o risco de morte é substancialmente reduzido com atividades físicas leves e que dobrar o tempo gasto nelas esteve associado a uma redução de 29% na mortalidade. Parece que cada movimento, mesmo que leve, conta para viver um pouco mais.
Atividades físicas leves constituem parte significativa do nosso dia.Fonte: Getty Images
Cresce o número de evidências mostrando os benefícios para saúde, redução do risco de doenças crônicas e morte, a partir de atividades físicas leves – aquelas que estão distribuídas discretamente em nossa rotina: caminhadas casuais, esportes leves durante o lazer como sinuca, pesca, boliche, as tarefas domésticas leves como cozinhar, tirar o pó dos móveis da casa, cuidar das plantas e lavar louça, além de passear com o cachorro.
Essas atividades leves podem corresponder ao tempo de 25% do nosso dia e fazer uma diferença significativa na saúde e longevidade. Nessas, tanto os batimentos do seu coração quanto sua respiração são alteradas em magnitude leve, ainda sendo possível conversar e até cantar, o que não ocorreria em atividades de intensidades moderada e vigorosa.
Caminhar com o cachorro
A “dog walking”, ou seja, o passeio com o cachorro pode trazer benefícios interessantes à nossa saúde, além da do próprio amado animal de estimação. A caminhada é uma atividade física comum e uma das mais seguras e de baixo custo que existem e, ainda, pode ser uma atividade atrativa e de fácil acesso para pessoas inativas e sedentárias que pretendem iniciar a prática de exercícios físicos. É estabelecido na literatura que donos de animais de estimação como cães realizam mais caminhadas recreativas do que pessoas que não tem cães.
Dog walking – a caminhada com cães.Fonte: Getty Images
A natureza rotineira e resiliente a todas as estações do ano, pois mesmo com chuva e frio, levamos nosso cão para fazer suas necessidades e passear, são características que fazem essa atividade física ser sustentável. Além disso, está relacionada ao bem-estar canino e a saúde humana, atuando também na maior socialização na vizinhança, pois ao sair com seu animal a pessoa está mais exposta a se relacionar com vizinhos e conhecidos.
Aumentando a atividade física em quatro pernas em vez de duas
Dentre outros fatores que fazem a atividade funcionar, temos o senso de obrigação dos donos em passear com seus cachorros, assim como um apoio motivacional que os leva a caminhar com seus animais. Cães foram domesticados há mais de 10 mil anos, mas foi apenas nos últimos 30 anos que o melhor amigo do homem assumiu o novo papel – nos tirando do sofá um pouco e nos fazendo dar mais passos por dia.
“A melhor parte de levar meu cachorro para passear é poder ter um momento mais contemplativo no meu dia. Quando eu volto do passeio me sinto mais energizado, focado e contagiado pela felicidade do Dexter”, afirma Lutz – criador de conteúdo digital.
A pesquisa mais recente, realizada na Austrália, mostrou que a aquisição de um cachorro por parte da família, teve um efeito positivo nas atividades físicas das crianças. Assim como perder o cachorro impactou negativamente. Em relação à intensidade, essa pode estar relacionada à raça do cão – cães mais ativos, como galgos, beagles, spaniels e collies, podem aumentar o ritmo.
Mas aqui destaco: antes a constância da atividade do que a intensidade.
Na ciência, ainda precisamos de melhores evidências para determinar causa e efeito da relação entre ter cachorro e ser mais ativo. Passear com o cachorro não muda drasticamente a forma física de ninguém, mas se você tem um cachorro, é provável que aumente seus níveis de atividade física por meio de caminhadas e isso é uma boa notícia para a saúde humana.
Talvez uma pessoa inativa tenha fisicamente a intenção de melhorar sua vida. Pode ser que ela olhe para um atleta e o admire, querendo chegar perto daquilo. Entretanto, o caminho da inatividade física para o exercício intenso é longo e a sugestão é o processo ser gradativo. Uma vez que o comportamento de atividade física é algo para ser adotado durante toda a vida, não adianta ter pressa.
Dentre as novas abordagens pensadas para aumentar os níveis de atividade física da população, temos uma perspectiva de escada e não de elevador. Escada no sentido de pequenas mudanças que gradativamente podem chegar aos desejados treinos mais intensos.
Processo que passa por simplesmente ficar mais tempo em pé e diminuir tempo sentado (sugestão que já dei por aqui é a de beber bastante água, pois você terá que levantar e ir ao banheiro), seguido por caminhar mais durante o dia (aqui incluímos os passeios com cachorro), aumentando posteriormente a intensidade da caminhada ou até outros exercícios.
Por outro lado, uma abordagem de elevador, saindo do sofá direto para treinos pesados na academia, parece ser brusca demais e não gera condições para continuidade no caso de muitas pessoas.
Curta o momento de movimento com seu cão, é saúde para ambos.
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Fábio Dominski é doutor em Ciências do Movimento Humano e graduado em Educação Física pela Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC). É Professor universitário e pesquisador do Laboratório de Psicologia do Esporte e do Exercício (LAPE/UDESC). Faz divulgação científica nas redes sociais e em podcast disponível no Spotify. Autor do livro Exercício Físico e Ciência – Fatos e Mitos.