O empreendedorismo sustentável vem ganhando projeção com o avanço das mudanças climáticas e, por conseguinte, de pautas ambiental, social e de governança (ESG) nas empresas. Porém, o conceito não se relaciona apenas a ações para reduzir a dependência de matérias-primas naturais e combustíveis fósseis.
Nesse contexto, a gestão dos negócios deve ser alinhada com fatores ambientais a iniciativas de impacto social. Isso porque só é possível haver desenvolvimento sustentável ao beneficiar positivamente colaboradores e comunidade.
Um estudo de 2019 da Union + Webster, agência norte-americana de pesquisas, revelou que 87% da população brasileira prefere comprar produtos e serviços de empresas sustentáveis. Já 70% dos participantes não se importariam em pagar mais por isso.
SXSW: dentre os painéis do evento estão apresentações e debates sobre mudanças climáticas e sustentabilidade nos negóciosFonte: SXSW
Sendo assim, o empreendedorismo sustentável se destaca por dois aspectos importantes: fator competitivo e modelo de negócio. O tema inclusive é destaque em importantes eventos nacionais e internacionais, como o South by SouthWest (SXSW), que vai acontecer de 8 a 16 de março em Austin, nos EUA.
O encontro reúne pessoas relevantes das indústrias de tecnologia, cinema, música, educação e cultura, que discutem tendências e insights em nível mundial. Na pauta estão temas que devem impactar negócios em todo o planeta, como transição energética e negócios sustentáveis.
O empreendedorismo sustentável busca equilibrar aspectos sociais e ambientais nos negócios — não se foca somente na arrecadação de receita e atendimento de demandas mercadológicas. Desse modo, metas financeiras caminham lado a lado com metas de sustentabilidade.
O segmento ainda engloba negócios verdes ou sociais de maneira inovadora, como algumas startups. Há também a categoria das greentechs, startups que têm produtos, serviços ou soluções tecnológicas ambientalmente positivas.
E como adotar uma estratégia sustentável? Isso envolve estudo de atividades, planos de ação, controle rigoroso de todas as etapas e operações, além de avaliação de resultados. A proposta também inclui relatórios de transparência e selos ou certificações – que podem variar conforme o setor de atuação —, cujo objetivo é comprovar a execução de metas socioambientais.
Existem mais de 30 certificações sustentáveis no Brasil, como Empresa B, Certificação ESG, Leadership in Energy and Enviroment Design (LEED) ISO 14001 e outras.
Como o empreendedorismo pode promover a sustentabilidade e a responsabilidade social?
Um negócio sustentável e com responsabilidade social deve agregar práticas ambientalmente corretas a ações que visem o bem-estar de colaboradores e consumidores. Em ambos os casos, iniciativas devem ocorrer de modo espontâneo, portanto, sem uma obrigação legal.
No plano ecológico, as empresas optam por:
- redução do consumo de água e energia
- controle emissões de gases poluentes
- fontes renováveis (como solar e eólica)
- matérias-primas menos poluentes
- realizam reciclagem
- redução do desperdício de insumos e outros.
Já a responsabilidade social não se refere a um objetivo de assistência social, mas de ações que possam beneficiar as pessoas, por meio de projetos de educação, saúde, bem-estar e cultura. De modo externo, é possível realizar doações, voluntariado, eventos e palestras, cursos para educar consumidores sobre algum tema do mercado etc.
Empresas sustentáveis reduzem o desperdício de insumos, fazem reciclagem e utilizam fontes de energia renovável em todos as operações.
No ambiente interno, ocorre a promoção da diversidade em equipes, benefício e eventos de saúde mental, além de gestão humana, valores organizacionais, transparência e outros.
Quais são os desafios do empreendedorismo sustentável?
A execução de medidas do empreendedorismo sustentável nas empresas é um de seus principais desafios. Afinal de contas, requer mudanças, controle e análise de resultados em todos os níveis de suas operações internas e externas. Mas há outros fatores importantes, como mostraremos a seguir.
Risco de greenwashing
O falso entendimento ou aplicação de medidas efetivamente sustentáveis pode ocorrer para a atendimento de regras ou demandas de órgãos reguladores, investidores e consumidores. Esse tipo desvio é classificado como greenwashing (“lavagem verde”, em português), que consiste em destacar projetos, produtos e serviços socioambientais, mas que na prática não existem ou caem em contradição.
Por exemplo, uma empresa faz um alto investimento em energia solar, porém, não tem controle sobre recicláveis, desperdício de água e outros aspectos de suas operações.
O greenwashing também pode acontecer na manipulação de informações, como ocorreu em um escândalo da Volkswagen em 2015.
Isso ainda pode acontecer na manipulação de informações, como ocorreu com a Volkswagen em 2015: a fabricante utilizou um software para diminuir índices de emissões de gases poluentes de seus veículos movidos a diesel.
O escândalo rendeu ações coletivas de clientes, que se sentiram enganados por uma falsa propaganda de “clean diesel” (“diesel limpo”). Já em 2020, a companhia teve de pagar US$ 33 bilhões em multas, acordos e penalidades pelo greenwashing.
Gestão resiliente
A capacidade de se adaptar a mudanças constantes é essencial dentro do empreendedorismo sustentável. O motivo? A crise climática pela qual passamos — um dos principais temas da SXSW — se converte em eventos naturais cada vez mais intensos, além de riscos econômicos e sociais.
Dessa forma, o planejamento estratégico de empresas ecologicamente corretas deve considerar riscos de curto, médio e longo prazo, para que possam ser contornados adequadamente.
A relação entre sustentabilidade e empreendedorismo
Apesar dos desafios, a relação entre empreendedorismo e sustentabilidade passará a ser inevitável nos próximos anos, diante das urgências ambientais e sociais do planeta. Sendo assim, trata-se de uma agenda permanente, essencial para a sobrevivência humana e da natureza.
A aderência da gestão sustentável por grandes corporações brasileiras é também um reflexo de aliar lucratividade e contenção de impactos sociais e ambientais. O Banco do Brasil e Telefônica Brasil, por exemplo, estão entre os destaques do ranking anual Global 100, que elege as 100 empresas mais sustentáveis do planeta.
Ranking Corporate Knights: Banco do Brasil ocupa 6º lugar e Telefônica do Brasl, o 75º lugar.Fonte: Corporate Knights
A Natura também é reconhecida por suas iniciativas ESG, o que lhe rendeu a rigorosa certificação de Empresa B. No entanto, esse tipo de abordagem não se restringe apenas a companhias de maior porte.
Uma recente pesquisa do Serasa Experian descobriu que 89% das micro, pequenas e médias empresas (PME) do Brasil já adotam alguma prática ESG em seu dia a dia. Essa mesma porcentagem afirmou que ações da sigla são essenciais para competitividade nos negócios, embora 33,3% não conhecessem seu significado.
O resultado é indicativo de que em algum momento as empresas precisam comprovar práticas sustentáveis junto aos consumidores, investidores e fornecedores. Trata-se, então, de um importante e inevitável requisito de aceleração de negócios.
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