Um dos grandes lançamentos cinematográficos do ano é Oppenheimer, filme do diretor Christopher Nolan, que se inspira em uma pessoa real. A obra conta a vida do físico americano Julius Robert Oppenheimer, que entrou para a história por um motivo pouco nobre: ele ficou conhecido como o inventor da bomba atômica.
Na verdade, a sua vida foi mais complexa do que isso, e o filme busca trazer luzes às diferentes nuances em torno de um cientista que trabalhou em um projeto que matou milhares de pessoas. Neste texto, trazemos mais detalhes sobre a sua trajetória e sobre a personalidade de Oppenheimer.
Quem foi Oppenheimer?
(Fonte: The Independent)Fonte: The Independent
Julius Robert Oppenheimer nasceu em Nova York em 22 de abril de 1904. Ele era filho de imigrantes judeus vindos da Prússia, e que enfrentavam a onda de antissemitismo crescente tanto na Europa quanto nos Estados Unidos. Seu pai era um rico importador de tecidos e sua mãe foi uma conhecida pintora.
Para se ter uma ideia como os Oppenheimer enriqueceram na América, basta saber que eles moravam em um grande apartamento no Upper West Side com três empregadas, um motorista e obras de arte valiosas nas paredes. Por conta de toda essa estrutura familiar, o jovem Julius Robert teve acesso a uma boa formação escolar.
Infância e juventude de Oppenheimer
Quando criança, ele era tido como muito inteligente. Um exemplo disso é que, quando tinha nove anos, Oppenheimer enviou uma carta para o New York Mineralogical Club e a associação pensou que ele era um adulto, convidando-o a fazer uma apresentação. Segundo matéria da BBC, seus colegas de escola lembravam dele como alguém generoso, tímido e que não era mimado.
“Há relatos de que Oppenheimer tinha uma postura arrogante”
Ao crescer, Oppenheimer foi estudar química em Harvard e Cambridge, e logo foi atraído pela Universidade de Göttingen, na Alemanha, para realizar lá o seu doutorado. Há relatos que dizem que ele tinha uma postura arrogante — tanto que alguns alunos ameaçaram um dia fazer um boicote às aulas caso ele continuasse se intrometendo demais.
Em certo momento da vida, Oppenheimer escreveu em uma carta que esta personalidade se devia à criação que teve. “Retribuí a confiança de meus pais em mim desenvolvendo um ego desagradável, que tenho certeza de que deve ter afrontado crianças e adultos que tiveram a infelicidade de entrar em contato comigo”, pontuou.
A carreira proeminente e a chegada da guerra
(Fonte: Getty Images)Fonte: Getty Images
Após a conclusão do doutorado, Oppenheimer voltou para os Estados Unidos. Direcionou-se para a Costa Oeste, onde começou a lecionar na Universidade da Califórnia, em Berkeley, e no Instituto de Tecnologia da Califórnia.
Nesse momento, um episódio histórico se aproximava: a Segunda Guerra Mundial. E as mudanças que ocorriam começavam a valorizar os conhecimentos e a carreira que o físico estava desenvolvendo. Em 1941, ele foi convocado para se juntar a um projeto ultrassecreto do governo americano, que mais tarde seria chamado de Projeto Manhattan.
Em seguida, em 1943, ele foi convidado para se tornar diretor do Laboratório de Los Alamos, o centro de desenvolvimento de bombas atômicas. Em quatro anos, em 1945, os cientistas agrupados dentro do Projeto Manhattan finalizariam a concretização de uma bomba atômica.
Os primeiros testes com uma arma nuclear foram feitos nos Estados Unidos em um projeto chamado Trinity, executado no Novo México. Menos de um mês depois, os americanos lançariam bombas atômicas nas cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki, matando cerca de 125.000 pessoas.
A personalidade de Oppenheimer e as consequências do ato
Albert Einstein e Oppenheimer. Fonte: Tempo
As grandes questões que cercam um certo fascínio sobre a personalidade do físico visam tentar entender o que levaria alguém a desenvolver uma tecnologia capaz de realizar um massacre. Não há respostas simples sobre isso.
Há certas conjecturas que dizem que Oppenheimer sofria episódios de depressão ligados à sua negação do antissemitismo — como se ele não se visse como um judeu. Contudo, ele chegou a destinar parte do seu salário para apoiar físicos perseguidos na Alemanha.
Outros documentos registram que Oppenheimer teve vários momentos de crise mental em sua vida. Quando estudava em Cambridge, ele teria deixado uma maçã envenenada na mesa de um professor, supostamente por sentimentos de inveja e inadequação. O tutor não comeu a fruta, mas o estudante foi levado a se consultar com um psiquiatra, que diagnosticou psicose.
Mesmo sendo um físico, Oppenheimer também tinha como interesse as ciências humanas. Ele estudava as escrituras hindus, e aprendeu sânscrito para ler o Bhagavad Gita – cuja história se centra na guerra entre os dois lados de uma família aristocrática. Estudiosos acreditam que isso tenha dado ao cientista alguma base filosófica para lidar com a ambiguidade moral que envolvia o seu projeto, que buscava criar uma arma altamente letal.
Isso o teria feito ter noções sobre dever, destino e desapego sobre o resultado de seus atos. Em entrevistas concedidas nos anos 1960, Oppenheimer declarou que, após a detonação da bomba atômica, veio à sua mente um trecho do Bhagavad Gita que dizia: “agora eu me tornei a Morte, o destruidor de mundos”.
“Nos anos seguintes, Oppenheimer passou a dedicar sua vida defendendo a limitação dos usos da bomba atômica”
Isso não significa que não haja indícios de arrependimentos sobre o seu trabalho. Amigos de Oppenheimer relataram que, nos dias após a explosão, ele parecia deprimido. Uma manhã, ele foi ouvido lamentando a morte daqueles “pobres japoneses”.
Nos anos seguintes, Oppenheimer passou a dedicar sua vida defendendo a limitação dos usos da bomba atômica. Em 1945, ele teve um encontro com o presidente Harry Truman. Segundo o historiador Paul Ham, o físico disse que não estava arrependido pelo que havia ocorrido na Segunda Guerra Mundial, mas sim pelas “mortes de milhões de indivíduos em algum apocalipse distante”.
Ele então disse ao presidente que sentia ter sangue em suas mãos, e foi duramente repreendido por Truman, que encerrou a reunião. Mais tarde, o presidente chamaria Oppenheimer de “cientista bebê chorão” e recomendaria que ele nunca mais fosse convocado para o governo.
Entretanto, o cientista começou a participar de organizações que visavam estimular líderes do governo a fazer o controle institucional dos estoques de armas atômicas nos países, argumentando que isso representaria perigos para as próximas guerras.
Em 1946, Oppenheimer declarou: “a bomba atômica tornou insuportável a perspectiva de uma guerra futura”. O famoso físico faleceu em 18 de fevereiro de 1967, aos 62 anos.